Tuesday, November 22, 2005

Desisto

sento-me
penso no que hei de fazer
e não consigo estabelecer
no mais profundo tédio
não tenho paciência de me entreter
não tenho vontade de remédio

suspiro e
lembro do que sempre fiz
pego um caderno de folhas semi-vazias
e retomo os meus tomos
começo a escrever
porém faltam-me as idéias

tudo parece forçado
escrevo por que sinto que devo
não por que quero fazê-lo
desisto
não consegui concluir esse projeto

olho ao meu redor
procurando o próximo projeto frustrado
sei que não o concluirei
busco um dos muitos livros
que comecei a ler mas esqueci de terminar
e forço a leitura pesarosa por um página

deito o livro e fito a capa
fito o título e o autor tão importante
não comecei a ler por que eu gosto
comecei tal projeto por que senti que devia
volto a estante e pego mais um livro inacabado

este livro me assombra
hei de lê-lo todo um dia!
sinto que me é importante
mas não estou preparada para tal desafio
desisto de ler

ai esse tédio me consome tão tão
que me deita aflita
quero ar puro e fresco!
vou-me à janela tão urbana
com a vista tão urbana e respiro fundo
um cheiro de poluição preenche os pulmões
e o enjôo do ar passa ainda mais ao meu viver

chego a minha estante de discos
e sinto vontade de escutar
um a um considero ouvir
mas nenhum me agrada
não quero dançar
não quero cantar
não quero amar
não quero chorar

desisto
esta busca pela arte perfeita está me decepcionando
o que será a raiz da minha rigidez em ter prazer?
não estou em estado de espírito de pensar
estou em estado de lamentar(-me)

qual o melhor remédio?
a arte produzida ou a arte usurfruida?
creio que o que preciso é de arte genuína
de algo que vá direto à alma
que possa conversar com o ente entediado
aqui dentro
e assim eu possa terminar meus projetos

Thursday, November 10, 2005

Natureza Morta

Penso viva, olho vejo
a natureza fixa
onde as folhas
se mexem com o vento leve
a visão nítida
os troncos dourados
retorcidos ao longo
do paralelepipedo
com os matos por entre as pedras.
Folhas mortas,
porém vivas em mim.
A sensação de um espirito,
uma memória só minha, pessoal

Neste momento estou serena
sonhante como estas plantas
que respiram mas não saem do lugar.
Você está inerte a mim
e sua lembrança me faz apreciá-lo mais.
O mundo é mais meu.
A sua ausência mais bela
que a sua presença,
pois sem você por perto
eu posso sonhar.
Na sua falta
até as formigas são belas,
pois ao vê-las sonho contigo,
minha percepção é metade sua,
e metade real.

Os garis são belos ao trabalharem serenos.
A poluição é bela por querer sumir,
por sonhar em sumir,
mas não poder fazê-lo.
Estou alegre por ter te tido.
Estou alegre por poder lembrar.
Estou serena por saber sonhar.

Pensando em ti entro em contato comigo e a vida,
mas temo não a eminente morte,
pois a natureza continua bela quando morta.